sábado, 6 de agosto de 2011

Desafios Éticos da Crise Ecológica [palestra Leonardo Boff]

Na última quarta-feira dia 04/08, a Universidade Federal do Paraná promoveu um encontro na Reitoria com o filósofo Leonardo Boff. Reconhecido internacionalmente por trabalhar em defesa das causas sociais (relacionado principalmente à Teologia da Libertação), nos últimos anos tem se dedicado também ao debate relacionado às questões ambientais.
Baseado no termo criado por Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química, Boff (bem como centenas de outros cientistas) acredita que estejamos vivendo uma nova fase geológica, denominada "Antropoceno" a qual considera as atividades antropológicas tão influentes que foram capazes de criar um impacto global sobre os ecossistemas do planeta e, através desse impacto causar a 6ª maior extinção de espécies que a Terra conheceu desde a sua origem.
Só para recordar: A primeira extinção em massa foi causada no Proterozoico com o advento do oxigênio que colocou fim em milhares de centenas de bactérias anaeróbias. A maior de todas as extinções ocorreu no período Permo-Triássico há 250 milhões de anos com a separação do Pangeia e deriva dos continentes. Esse evento resultou em 90% de perda de todas as espécies viventes na Terra, a causa mais provável tenha sido a liberação do gás metano (extremamente tóxico, chegando a ser considerado 23 vezes mais tóxico que o dióxido de carbono) consequência das erupções vulcânicas, somado a alteração dos habitats e ao efeito estufa que aumentou cerca de 5 graus a temperatura do planeta. E, há 65 milhões de anos houve a segunda maior extinção em massa já no período Cretáceo que ocasionou 30% de todas espécies animais incluindo os grandes répteis.
Desde o Neolítico a intervenção humana vêm sendo responsável pela perda em média de 250 mil espécies por ano e, por isso somos responsáveis como escrito acima pela 6ª maior extinção em massa, lembrando que as extinções anteriores foram eventos naturais ocorridos entre Eras Geológicas e responsáveis, em parte, pela evolução das espécies no nosso Planeta.
Para Leonardo Boff o ritmo de progresso e o aumento do consumo serão responsáveis pela nossa própria extinção e aqui estão alguns dos exemplos que indicam esse fim: escassez dos recursos naturais, crise causada pelo agronegócio, perda da biodiversidade, aumento do aquecimento global que ocasiona o derretimento das calotas terrestres e do metano liberado dos solos congelados (parmafrost) principalmente dos solos da Sibéria.
Em média uma espécie tende a perdurar cerca de 5 milhões de anos. Se considerarmos a origem da primeira família humana teríamos ultrapassado 7 milhões de anos, agora se consideramos como espécie apenas o Homo sapiens sapiens, que é a forma mais evoluída do Homo sapiens, aí teríamos menos de 50 mil anos, bem isso é questionável porque os paleontólogos discordam em relação a data de origem que varia entre 12 mil e 40 mil anos de existência. Indiferentemente a data de origem somos uma espécie relativamente nova e causamos tanto impacto sobre a Terra que seremos responsáveis pelo nosso próprio extermínio.
Mas será que existe uma forma de frear o nosso processo de extinção?
Para a Astrobiologia, ciência que estuda a vida no universo, o planeta Terra é um super organismo vivo que é autorregulado. Isso nos remete à hipótese de Gaia pela qual os organismos da biosfera e os componentes físicos da Terra estão intimamente conectados formando um complexo sistema interagente que mantêm em equilíbrio dinâmico as condições capazes e responsáveis pela manutenção da vida no planeta.
Dessa forma o ser humano passa de simples ocupante de espaço à elo, elo da cadeia ecológica. 
Boff acredita que devemos re-fundar o conceito da ética, dando uma dimensão mais profunda do ser humano. O que vemos hoje como "crise econômica da nova ordem mundial" é resultado da crise da civilização humana, pois não percebemos completamente a finitude do capital material e por isso somos guiados por uma necessidade absurda de consumo e vivemos sentimentos efêmeros por tudo o que nos rodeia.
Para que haja uma mudança na ordem social, principalmente na mudança de como enxergamos o meio ambiente e  os mais pobres do nosso planeta é imprescindível o resgaste da razão sensível, que é diferente da razão lógica, esta nos individualiza, aquela nos dirige à dimensão maior do sentido da vida, como diz Leonardo Boff  "somos filhos e filhas do cuidado, mamíferos racionais".
O desenvolvimento espiritual do ser humano parece ser um  dos alicerces para essa mudança e aqui eu ressalto que o desenvolvimento espiritual não está relacionado necessariamente com religiosidade e sim com transcendência.
Friedrich Hegel disse: "O ser humano aprende com a história que nada se aprende com a história, aprende tudo do sofrimento". Espero que ele esteja enganado e que nós possamos mudar nosso relacionamento com o meio ambiente.
Vamos refletir sobre o assunto e nos unir em busca de uma mudança global de pensamento.
Bjão e até a próxima ;)





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